Operadoras voltaram a apurar lucro e a inflação médica registrou queda neste ano
Por Beth Koike – De São Paulo – 28/10/2024 | 05h01
Depois de acumular um prejuízo de R$ 17,5 bilhões nos últimos três anos, as operadoras de planos de saúde voltaram a registrar lucros, totalizando R$ 2,5 bilhões no primeiro semestre de 2024. Essa mudança positiva no cenário financeiro indica que os reajustes nos convênios médicos, que dispararam entre 2022 e 2024, podem ser reduzidos em 2025.
A inflação médica, um dos fatores utilizados para calcular esses reajustes, já apresentou uma queda significativa neste ano. Dados da consultoria Mercer Marsh, que gerencia aproximadamente 4 milhões de usuários de planos corporativos, revelam que a taxa de sinistralidade caiu 8,5 pontos percentuais, atingindo 78,4% nos primeiros seis meses de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023. Esse percentual refere-se à parte da receita das operadoras destinada ao pagamento de serviços médicos, indicando uma maior margem de lucro.
Marcelo Borges, diretor-executivo da Mercer Marsh Benefícios, afirmou que “a previsão é de reajustes menores em 2025. Já observamos uma queda nos indicadores e a tendência é que essa melhora continue. As seguradoras buscam expandir sua participação no mercado e devem ser mais flexíveis nas negociações.”
No terceiro trimestre de 2024, a inflação médica na carteira da Mercer Marsh foi de 11,6%, comparada a 17,2% no mesmo período de 2023. A consultoria Aon, que atua no mesmo setor, estima que a inflação médica fique entre 10% e 14% no Brasil. É importante notar que os reajustes dos planos de saúde são determinados com base nos gastos médicos do ano anterior.
Os planos voltados para pequenas e médias empresas (PME), que somam 8,7 milhões de clientes, também apresentaram uma diminuição nos reajustes. Nos contratos vigentes de maio de 2024 a abril de 2025, a redução no aumento foi em torno de três pontos percentuais, com algumas operadoras implementando cortes de cinco a oito pontos percentuais.
“Esses números refletem parcialmente a melhora na inflação médica, e esperamos um processo de recuperação gradual”, disse Luiz Feitoza, sócio da consultoria Arquitetos da Saúde. A melhoria no desempenho das operadoras se deve a uma série de fatores, como os aumentos expressivos de tarifas nos últimos três anos e uma rede de atendimento que se tornou mais eficiente.
De acordo com Thomaz Menezes, CEO da consultoria It’s Seg, “não há uma solução única para isso; é a combinação de todos esses elementos que está influenciando. A correção de preços, a otimização da rede e o combate a fraudes estão todos interligados.” Leonardo Coelho, vice-presidente da divisão de saúde da Aon, acrescentou que “o processo de reprecificação está finalizado e as operadoras conseguiram equilibrar os custos médicos.”
Atualmente, o setor de planos de saúde conta com 51,4 milhões de beneficiários, um aumento de 4 milhões desde o início da pandemia, em 2020. Apesar desse crescimento, o número de usuários hoje é bastante semelhante ao de dez anos atrás, em 2014, quando havia 50,3 milhões de beneficiários.
“Se analisarmos o quadro de forma otimista, a situação é encorajadora. No entanto, se focarmos na falta de crescimento, é preocupante que, em dez anos, o número de beneficiários tenha permanecido quase o mesmo”, observou Feitoza. A taxa de crescimento, que vinha em ascensão, começou a desacelerar devido a fatores como a taxa de emprego, a diminuição dos casos de COVID-19 e o aumento significativo nos preços dos planos de saúde.
Nesse contexto, as operadoras têm explorado novos modelos de convênios com coberturas reduzidas. Um dos objetivos atuais do setor é desenvolver planos de saúde ambulatoriais, que não incluiriam a cobertura para internações de emergência. Contudo, essa opção ainda é escassa no mercado devido aos riscos legais associados à transferência de pacientes internados, que pode ser um processo complicado.
Título da Matéria: Reajuste de plano de saúde será menor em 2025
Fonte: Valor Econômico