Um levantamento recente da consultoria global Gallup aponta que sete em cada dez brasileiros estão desengajados no trabalho. Em meio a essa realidade, surge um fenômeno silencioso e cada vez mais frequente nas empresas: o boreout, também conhecido como síndrome do tédio extremo. Ao contrário do burnout — relacionado ao excesso de demandas —, o boreout decorre da falta de desafios, desmotivação e tarefas significativas.
O que é boreout e por que ele é prejudicial?
O boreout ocorre quando o colaborador não está sobrecarregado, mas sim sem estímulo, desinteressado e emocionalmente distante da sua função. Esse cenário compromete diretamente a saúde mental, o clima organizacional e os resultados da empresa, além de elevar índices de absenteísmo, rotatividade e queda de produtividade.
Apesar de suas origens distintas, os sintomas do boreout são semelhantes aos do burnout, conforme descrito pela Organização Mundial da Saúde (OMS):
- Sensação de esgotamento e apatia
- Fadiga persistente
- Desconexão emocional com o trabalho
- Perda de motivação e propósito
- Baixa eficácia profissional
Quais fatores contribuem para o boreout?
Segundo especialistas em gestão de pessoas e saúde corporativa, o boreout é favorecido por diversos elementos, como:
- Funções repetitivas ou com pouca variação
- Falta de reconhecimento ou propósito
- Poucas interações sociais com colegas
- Ausência de perspectivas de crescimento
- Cultura organizacional que não estimula inovação
A síndrome foi conceituada em 2007 pelos consultores suíços Peter Werder e Philippe Rothlin no livro “Diagnose Boreout”, que identificou a origem do problema em atividades monótonas e ambientes que negligenciam o potencial dos colaboradores.
Tédio no trabalho e a crise de engajamento
Relatórios recentes sobre clima organizacional indicam uma crise global de engajamento nas empresas. No Brasil, 46% dos profissionais relatam sentir estresse diariamente, e um em cada quatro afirma sentir tristeza no trabalho. Além disso, 20% dos trabalhadores globalmente se sentem solitários em seus ambientes corporativos.
Especialistas já identificam o boreout como um gatilho para o quiet quitting — a chamada “demissão silenciosa”, quando o colaborador permanece na empresa apenas no aspecto formal, sem envolvimento real ou entusiasmo pelas tarefas.
Gerações mais jovens e o desafio do retorno ao presencial
Para profissionais mais jovens, que cresceram em ambientes digitais e mais dinâmicos, a obrigatoriedade de retorno aos escritórios tem acentuado a insatisfação. Sentimentos como frustração, desvalorização e desânimo ganham espaço — mesmo que nem sempre por responsabilidade direta do empregador.
Como as empresas podem prevenir o boreout?
Empresas com foco no desenvolvimento humano e inovação já compreendem que cultura, propósito e ambiente colaborativo são ferramentas poderosas para combater o boreout. Algumas ações eficazes incluem:
- Estímulo à experimentação e inovação nas equipes
- Programas de mentoria e treinamentos interdepartamentais
- Oportunidades de conexão entre times e áreas diferentes
- Incentivo à mobilidade interna e desafios fora da rotina
- Apoio à saúde mental e bem-estar emocional
Segundo especialistas, organizações que promovem crescimento constante são mais energizadas e envolventes. Uma cultura que valoriza a criatividade, o aprendizado e a troca entre colaboradores ajuda a manter o engajamento em alta.
A responsabilidade compartilhada: empresa e colaborador
Embora o ambiente organizacional seja determinante, o colaborador também exerce um papel importante no enfrentamento do boreout. Isso passa por reconhecer sinais de desânimo, refletir sobre motivações pessoais e buscar oportunidades de aprendizado e conexão.
Algumas atitudes recomendadas incluem:
- Solicitar feedbacks e orientações de carreira aos líderes
- Participar de mentorias ou grupos interdepartamentais
- Buscar desafios que estimulem o desenvolvimento pessoal
- Reavaliar metas e propósitos dentro da organização
Se você está se sentindo desmotivado, sem perspectiva de crescimento ou perdendo o entusiasmo pela função atual, pode ser hora de buscar novos caminhos, mesmo dentro da própria empresa.
Boreout não é frescura — é um alerta
Ignorar os sintomas do boreout é um risco tanto para empresas quanto para profissionais. O tédio extremo pode evoluir para quadros mais sérios de desmotivação crônica, ansiedade e adoecimento mental.
Por isso, é fundamental que líderes, gestores e equipes de RH estejam atentos aos sinais, promovam uma cultura corporativa saudável e ofereçam condições reais de engajamento, propósito e crescimento.