O setor de planos de saúde registrou um resultado expressivo no primeiro trimestre de 2025: os lucros das operadoras dobraram, conforme divulgado pelo jornal O Globo. À primeira vista, esse desempenho pode parecer uma excelente notícia. Mas será que há motivos reais para comemoração?
Segundo Valter Hime, um dos mais respeitados estudiosos da saúde suplementar no Brasil, é preciso ir além dos números e entender o que, de fato, sustenta esse crescimento. Em sua análise técnica, Hime chama atenção para fatores que merecem uma leitura crítica e responsável — especialmente do ponto de vista regulatório e da sustentabilidade do sistema.
A queda da sinistralidade: sintoma ou causa?
Um dos principais destaques do trimestre foi a redução da sinistralidade — que caiu de 84,2% para 78,1%. Para o consumidor comum, isso pode parecer positivo, já que significa que os planos de saúde gastaram menos com atendimento do que arrecadaram com mensalidades. No entanto, essa queda pode ser interpretada de diferentes formas:
- Por um lado, pode significar eficiência operacional, renegociações contratuais ou gestão de custos mais estratégica.
- Por outro, pode indicar glosas médicas, postergação de procedimentos, restrições de acesso aos serviços ou reajustes abusivos nos valores pagos pelos clientes.
O problema é que a matéria não deixa claro qual foi o fator predominante. E essa ausência de transparência levanta um sinal de alerta.
Glosas médicas: um problema crescente e silencioso
Hime destaca ainda uma lacuna importante na cobertura jornalística: a omissão sobre o aumento das glosas médicas — isto é, a negativa de pagamento de procedimentos e serviços prestados por hospitais, clínicas e profissionais de saúde. Essa prática, que tem crescido de forma acelerada, prejudica diretamente os prestadores e pode criar um efeito cascata: fragiliza o atendimento e infla artificialmente os resultados das operadoras.
A assimetria na cadeia de valor da saúde é um desafio antigo e crítico. Enquanto as operadoras comemoram os lucros, muitos prestadores enfrentam dificuldades financeiras sérias — com margens espremidas, inflação médica em alta e honorários desvalorizados.
A entrada de novos beneficiários: uma bomba-relógio?
Outro ponto citado como justificativa para os bons resultados foi o crescimento no número de beneficiários, impulsionado pela melhora na taxa de emprego. Embora esse movimento amplie a base de receita, é importante considerar um fator técnico relevante: há uma defasagem natural entre a entrada de novos usuários e a utilização efetiva dos serviços.
Ou seja, os custos associados a esses novos beneficiários ainda não apareceram nos balanços — mas inevitavelmente aparecerão nos próximos ciclos. A euforia momentânea pode esconder custos futuros que pressionarão o sistema.
Um setor sob pressão: prestadores, clientes e o próprio sistema
Do outro lado da equação, empresas e famílias ainda enfrentam dificuldades para arcar com os custos dos planos. A capacidade de pagamento segue como o verdadeiro limitador da saúde suplementar no Brasil. Reajustes excessivos, mesmo diante de trimestres lucrativos, podem gerar inadimplência, evasão de beneficiários e sobrecarga no SUS.
Além disso, um projeto de lei em discussão no Congresso Nacional pode representar uma ameaça real ao equilíbrio do setor. A proposta prevê mudanças retroativas nas regras de cobertura dos planos, o que pode romper contratos vigentes e gerar insegurança jurídica generalizada.
Lucro é legítimo, mas deve ser sustentável
Como pontua Valter Hime, o lucro das operadoras é legítimo e necessário, mas precisa ser sustentável, transparente e proporcional ao valor entregue aos beneficiários. Celebrar resultados trimestrais sem considerar a complexidade dos fatores envolvidos pode levar a decisões estratégicas equivocadas e desequilíbrios no setor.
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