A ANS aponta prazos de pagamento mais longos entre hospitais e operadoras como principal motivo, mas especialistas alertam para a alta dos custos médicos.
O setor de saúde suplementar vive um momento de atenção. Apesar da queda na sinistralidade — ou seja, na proporção entre o que as operadoras arrecadam e o que gastam com despesas médicas — os números mostram um aumento expressivo nas provisões técnicas, as reservas que garantem o pagamento de atendimentos futuros.
Essas provisões funcionam como um “colchão financeiro” para cobrir contas médicas ainda não quitadas, e o crescimento delas pode sinalizar um novo ciclo de reajustes nas mensalidades dos planos.
Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), no primeiro semestre de 2025, a reserva destinada a atendimentos já realizados, mas ainda não cobrados (a chamada Peona) somou R$ 28,6 bilhões. Já a provisão para serviços já notificados (PESL) atingiu R$ 27,5 bilhões no mesmo período.
Historicamente, a PESL costuma ser maior, mas essa relação se inverteu nos últimos trimestres — um movimento que chamou a atenção de analistas e consultores do setor.
O que explica o aumento das provisões
A ANS afirma que o crescimento das reservas está relacionado a atrasos na notificação das contas médicas pelos hospitais, o que alonga o prazo entre a realização do atendimento e o pagamento efetivo pelas operadoras.
No entanto, especialistas têm outra leitura. Para Marcio Coriolano, consultor e ex-presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), os custos médicos seguem subindo, mesmo que o uso dos planos tenha caído em alguns períodos.
“A queda na sinistralidade vem de reajustes passados e de menor utilização, não da redução do custo médico”, explica Coriolano.
Além disso, segundo dados da Anahp (Associação Nacional dos Hospitais Privados), os prazos médios de pagamento às instituições estão aumentando: em agosto, os hospitais levaram 83,5 dias em média para receber, ante 63,7 dias no ano anterior.
Impactos e perspectivas para o mercado
O aumento das provisões afeta todo o ecossistema da saúde suplementar. Para os planos de saúde, pode representar a necessidade de reajustes maiores nos próximos anos, especialmente se os custos hospitalares e o volume de procedimentos continuarem em alta.
O analista Leandro Bastos, do Citi, avalia que o avanço das reservas reflete tanto a expansão da lista de procedimentos obrigatórios da ANS quanto mudanças nas práticas de gestão financeira das operadoras.
“As provisões técnicas estão crescendo rapidamente, influenciadas por novos custos assistenciais e por prazos de pagamento mais longos”, comenta.
Entre as operadoras, as seguradoras — como a Bradesco Saúde e outras grandes marcas — são as que mais mantêm reservas robustas, o que, segundo Coriolano, reflete uma postura mais conservadora e de segurança financeira.
Por que essas reservas são importantes
Essas provisões não são apenas uma exigência regulatória: elas garantem que, mesmo em casos de crise financeira de uma operadora, os hospitais e médicos continuem sendo pagos e os pacientes sigam atendidos. É uma proteção essencial para o equilíbrio do sistema.
Casos como o da Unimed-Ferj e da Golden Cross, que enfrentam dificuldades financeiras e já recorreram a essas reservas, mostram a importância desse mecanismo para preservar o atendimento aos beneficiários.
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Título da Matéria:Provisão cresce e pode levar a reajuste maior de planos de saúde
Fonte: Valor Econômico
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