Produtos têm cobertura regional, mais coparticipação, menos reembolso e rede restrita
Com reajuste médio de 25% por ano e mudanças regulatórias que permitiram a inclusão constante de tratamentos, em especial após a pandemia, os planos de saúde atingiram patamares de preço muito elevados. Nesse cenário, o caminho encontrado pelos consumidores foi migrar para convênios com cobertura menor ainda que pagando o mesmo valor ou mais. Hoje, os produtos mais comercializados são aqueles com abrangência regional, internação em enfermaria, com mais coparticipação e menos reembolso.
“A diversificação dos produtos tem respondido à necessidade de oferecer alternativas compatíveis com a renda das famílias e diferentes perfis de uso. Com a possibilidade de adaptação, mais pessoas permaneceram cobertas, enquanto planos com redes amplas continuam disponíveis para quem busca esse formato. Isso contribui para a sustentabilidade do sistema”, disse Gustavo Ribeiro, presidente da Abramge, que representa as operadoras.
Nos últimos dois anos, o setor ganhou 2,1 milhões de usuários, sendo que a maior parte comprou convênios mais simples. O mercado tem hoje 53,2 milhões de pessoas, o que representa 25% da população brasileira — patamar que se mantém há mais de dez anos.
Bruno Sobral, diretor-executivo da FenaSaúde, entidade das seguradoras, diz que não percebe um “downgrade” e, sim, uma oferta maior de planos mais restritos para atender à demanda atual.
A coparticipação tem sido a ferramenta adotada para minimizar o reajuste, uma vez que esse mecanismo inibe o uso do plano. As fatias do copagamento vêm crescendo. O teto permitido que o usuário paga é de 50% sobre o valor do procedimento.
Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostram que, entre 2023 e 2025, houve incremento de três pontos percentuais no volume de planos de saúde com coparticipação. Neste ano, 39% tinham esse tipo de cobrança e 54,6% não descontam nada do usuário.
Esses percentuais variam entre as operadoras. Na operadora analisada, dos 249 mil novos usuários no Estado de São Paulo, 87% foram produtos com coparticipação. Na Amil, a fatia de produtos com copagamento no mercado paulista aumentou de 38% para 60% entre 2021 e 2025, segundo o Itaú BBA.
Há ainda busca por planos com atendimento geográfico mais restrito, cujo custo é menor. A Porto já tem convênios médicos com cobertura por bairros em São Paulo e no Rio de Janeiro. A fatia de convênios médicos com abrangência nacional caiu de 28,2% para 27,6% nos últimos dois anos. Já aqueles com cobertura municipal subiram de 11,8% para 12,3% no mesmo período.
Nesse cenário de busca por um plano de saúde com um custo mais acessível, há movimentos curiosos acontecendo. A Hapvida, que se juntou à NotreDame Intermédica para ter atuação nacional, vem tendo prejuízo com os planos da Intermédica que atendem no país todo.
“Entre dezembro de 2024 e outubro de 2025, cerca de 80% do prejuízo líquido da empresa, em São Paulo, vem de produtos nacionais. Produtos com uma rede mais ampla de prestadores provavelmente enfrentam um ambiente competitivo mais difícil”, disse Vinicius Figueiredo, analista do Itaú BBA.
Outro benefício que vem sendo cortado é o reembolso. Neste ano, 30% dos planos oferecem esse serviço, queda de 3,4 pontos ante 2023. O volume de produtos sem qualquer reembolso subiu de 56,2% para 59%.
As operadoras argumentam que parte relevante das fraudes vem dos reembolsos, especialmente após mudanças legislativas envolvendo terapias para pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Por Beth Koike — De São Paulo
Publicado em 22/12/2025
Fonte: Valor Econômico