Novas modalidades incluem parcerias com prestadores de serviço e atenção primária; alta das mensalidades melhorou resultado das empresas
Por Simone Goldberg — Para o Valor, do Rio 30/04/2024 05h03 Atualizado há 3 semanas
As seguradoras de saúde, que enfrentam custos crescentes no setor, estão adotando estratégias para incrementar seu resultado operacional, como oferta de produtos mais acessíveis e regionalizados, foco na atenção primária e parcerias com prestadores de saúde. Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em abril mostram que as operadoras médico-hospitalares – que compõem a maior parte do setor de saúde suplementar – acumularam resultado operacional negativo de R$ 5,9 bilhões em 2023. No entanto, considerando os ganhos financeiros, o lucro líquido chegou a R$ 1,9 bilhão.
Já a sinistralidade caiu 2,2 pontos percentuais em comparação a 2022, fechando 2023 com 87%. É o melhor índice dos últimos três anos, diz a agência, que atribui essa redução à recomposição das mensalidades. Segundo a ANS, observa-se “uma tendência de maior crescimento das mensalidades médias (ajustadas pela inflação do período observado) em relação à despesa assistencial por beneficiário (também ajustada pela inflação)”. Em 2023, o reajuste dos planos individuais dado pela ANS foi de 9,6%, contra uma inflação de 4,62%. Para os planos coletivos, que têm aumento negociado entre operadoras e clientes, o percentual em alguns casos superou os 20%.
Segundo Vera Valente, diretora-executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), ainda é cedo para estimar o crescimento em 2024. Ela defende mudanças na regulação para permitir a comercialização de planos exclusivos de consultas e exames e atrair mais clientes. “Ou seja, planos mais aderentes às necessidades e às capacidades de pagamento de parte relevante das famílias e empresas brasileiras”, afirma.
A Bradesco Saúde, com cerca de 3,9 milhões de beneficiários em planos coletivos, tem apostado na coparticipação e na regionalização, com prestadores de serviço locais. São produtos que também dão cobertura nacional. “Por ser desenhada de acordo com a realidade local, essa modalidade chega a preços mais competitivos para empresas”, ressalta Manoel Peres, diretor-presidente da seguradora.
“Despesas administrativas ainda são relevantes no setor”
Nuno Vieira
A estratégia tem se mostrado acertada. Em 2023, a Bradesco Saúde cresceu 22% na base de beneficiários de produtos regionais. No mesmo período, registrou prejuízo operacional de R$ 1,4 bilhão e lucro líquido de R$ 841,2 milhões por conta de operações financeiras, segundo dados da ANS. A empresa também lançou, no ano passado, um modelo de coparticipação de 30%, limitado a um valor fixo por procedimento. Segundo Peres, uma vez que essa fórmula traz maior previsibilidade de custos, a economia para as empresas-clientes pode chegar a 18% em comparação a outros planos.
O segmento PME também é visto como atraente pela Seguros Unimed. O segmento saúde cresceu 12,5% em 2023, para 793,2 mil clientes. Segundo Elias Leite, diretor comercial de produtos e marketing de seguros, uma das frentes de expansão é a oferta de produtos regionais que atendam demandas específicas, com preços mais atrativos e opção de coparticipação.
Há produtos que incorporam a atenção primária à saúde, que promove a prevenção e o diagnóstico precoce, resultando em redução de custos ao evitar agravos de doenças. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, a modalidade ode atender de 80% a 90% das necessidades de saúde de uma pessoa ao longo de sua vida. Para fortalecer essa linha, a Unimed ampliou parceria com o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo. Com a iniciativa, diz Leite, os mais de 140 mil segurados da capital e região metropolitana podem realizar consultas de atenção primária em uma unidade do hospital. Segurados de outros Estados podem se consultar via telemedicina.
A Porto Saúde, que fechou 2023 com 543 mil beneficiários (em 2022 eram 413 mil), é focada nos planos coletivos empresariais e vem criando soluções mais em conta para o segmento. Lançou no Rio de Janeiro, em março, uma linha pensada para firmas com 3 a 99 vidas, sem reembolso e de 20% a 30% mais barata do que os seguros tradicionais. O serviço está disponível na cidade de São Paulo, Campinas (SP) e no litoral paulista.
A seguradora também criou um plano nacional para empresas de todos os portes com rede otimizada, reembolso e um preço até 15% menor que a linha tradicional. A Porto Saúde, que teve lucro de R$ 200,4 milhões em 2023, acertou parcerias com hospitais do Rio de Janeiro e lançou na cidade o “Time Médico”, um serviço que já funciona em São Paulo e algumas cidades do interior paulista e que permite agendar consultas pelo aplicativo.
Segundo o CEO da Porto Saúde, Sami Fogel, parcerias são um dos motores do crescimento. “No ano passado, firmamos uma joint-venture junto à Oncoclínicas e parcerias com Sírio-Libanês e Oswaldo Cruz em São Paulo, Centro Médico de Campinas e Grupo Vera Cruz, e Grupo Casa de Saúde, no litoral, entre outros”, destaca o executivo.
Nuno Vieira, sócio-líder de seguros da consultoria EY para América Latina, vê as empresas de planos de saúde desenvolvendo estratégias para minimizar a escalada dos custos, como a oferta de mais produtos e serviços médico-hospitalares dentro da rede conveniada e com menos reembolso. Há ainda, afirma ele, um esforço de eficiência operacional em relação às despesas administrativas. “Elas ainda são relevantes no setor”, diz Vieira.
Em outra linha de ataque aos custos elevados, Vieira lembra as tentativas para reduzir fraudes e desperdícios, que podem representar mais de 10% das receitas dos planos. O dado consta de um estudo da EY feito em parceria com o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) e divulgado em novembro do ano passado.
Título da Matéria: Convênios de saúde lançam planos acessíveis e regionalizados
Fonte: Valor Econômico
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