A emergência climática não afeta apenas o meio ambiente e a economia — ela já é uma realidade preocupante no mundo do trabalho. No Brasil, entre janeiro e maio de 2025, o Ministério Público do Trabalho (MPT) recebeu 527 denúncias relacionadas ao calor excessivo nos ambientes de trabalho, o que representa 71% do total de casos registrados durante todo o ano de 2024. Em 2023, esse número foi de 611.
Além do calor extremo, os impactos das mudanças climáticas no ambiente laboral também incluem incêndios, enchentes e eventos climáticos extremos, que vêm comprometendo a saúde física e mental dos trabalhadores — especialmente os mais vulneráveis.
Calor extremo no trabalho: um fator crescente de risco ocupacional
De acordo com Juliane Mombelli, procuradora do Trabalho no Rio de Janeiro e vice-coordenadora da Codemat (Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho e da Saúde do Trabalhador), as mudanças no clima devem ser incorporadas aos programas de saúde e segurança ocupacional das empresas.
Ela alerta que o avanço desse cenário demanda medidas preventivas urgentes. “Estamos diante de novos fatores de risco que exigem políticas claras para proteger a integridade física dos colaboradores”, afirma.
Um levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT) reforça esse alerta: mais de 70% da força de trabalho global — o que representa cerca de 2,4 bilhões de pessoas — estão expostas a riscos severos relacionados às mudanças climáticas, como o calor excessivo.
Responsabilidade empresarial e participação ativa dos trabalhadores
Para Mombelli, a responsabilidade de garantir um ambiente seguro é do empregador. Isso inclui identificar riscos internos e externos relacionados ao clima. Por outro lado, os trabalhadores devem estar engajados em todas as fases dos programas de prevenção, inclusive no direito de recusar tarefas que representem risco grave e iminente à vida.
Setores mais afetados e medidas necessárias
Patrick Maia Merisio, procurador do MPT em São Paulo e coordenador regional da Codemat, destaca que o setor de comércio tem registrado um aumento expressivo de denúncias relacionadas à falta de ventilação e climatização adequada nos estabelecimentos.
No entanto, os profissionais mais expostos são os que atuam em áreas externas, como construção civil, transporte e limpeza urbana. Para proteger esses trabalhadores, algumas medidas são recomendadas:
- Reorganizar os horários da jornada para evitar picos de calor;
- Garantir pausas em locais climatizados;
- Assegurar hidratação contínua;
- Equipar os trabalhadores com vestuário adequado.
Merisio também chama atenção para a necessidade de adaptar as convenções coletivas de trabalho para incluir cláusulas sobre saúde ocupacional em tempos de emergência climática.
Em 2025, além das denúncias de calor, o MPT recebeu 22 denúncias relacionadas a incêndios e outras cinco ligadas a alagamentos.
Casos no Rio Grande do Sul revelam gravidade da situação
A tragédia climática ocorrida no Rio Grande do Sul em maio de 2024 reforça o alerta. Entre 1º de maio de 2024 e 1º de maio de 2025, foram registradas 314 denúncias associadas a eventos climáticos extremos, sendo 263 apenas na área de atuação da sede do MPT em Porto Alegre.
Gustavo Vianney de Lima, procurador do Trabalho e vice-coordenador da Codemat regional, destaca a importância de um diálogo socioambiental envolvendo trabalhadores, empregadores, poder público e sociedade civil. Para ele, a negociação coletiva deve ser instrumento-chave para garantir condições de trabalho ajustadas à nova realidade climática.
Produtividade em queda e aumento de problemas de saúde
Adriana Marcolino, diretora técnica do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), reforça que a exposição ao calor extremo está diretamente associada à queda de produtividade e ao aumento de problemas de saúde como:
- Queda de pressão arterial;
- Taquicardia;
- Sobrecarga no sistema cardiovascular.
Ela também defende avanços na legislação trabalhista, especialmente para definir limites climáticos claros para a paralisação de atividades em ambientes externos.
Transição climática e mudanças no mercado de trabalho
Com a transformação dos modelos produtivos para reduzir as emissões de carbono, é esperado um forte movimento de transição no emprego. Marcolino lembra que alguns postos de trabalho deixarão de existir, enquanto outros surgirão. A “transição justa” exige políticas de qualificação profissional e apoio à reinserção no mercado.
Responsabilidade compartilhada e políticas públicas necessárias
O advogado Alexandre Jorge, sócio do escritório Pinheiro Neto, ressalta que não se pode colocar toda a responsabilidade nas empresas. Segundo ele, as companhias devem ser responsabilizadas apenas pelos riscos que geram ou não neutralizam diretamente, e não pelos efeitos sistêmicos da crise climática global.
Mesmo assim, Jorge reconhece que o tema desperta maior atenção e, com isso, a fiscalização tende a aumentar, especialmente com o avanço das denúncias.
Ações concretas em andamento
Como parte das ações preventivas, o MPT está desenvolvendo diversas frentes de atuação, como:
- Estudos internos sobre mudanças climáticas;
- Campanhas de conscientização;
- Elaboração de guias informativos;
- Abertura de procedimentos administrativos específicos.
Conclusão: o papel das empresas diante do novo cenário climático
A crise climática já está moldando o presente e o futuro do trabalho no Brasil e no mundo. Para garantir ambientes laborais seguros, empresas precisam agir de forma proativa e estratégica.
Adotar políticas de saúde ocupacional que considerem os efeitos das mudanças climáticas, ouvir os trabalhadores, negociar com sindicatos e implementar ações práticas como climatização, pausas e reorganização da jornada já não são mais diferenciais — são necessidades urgentes.
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