Orçamento

Família Bueno garante aporte de R$1,5 bi na Dasa

A família Bueno, controladora da Dasa, está colocando mais R$ 1,5 bilhão no caixa da companhia a fim de reduzir a alavancagem que bateu em 4,2 vezes o Ebitda no primeiro trimestre, ou seja, acima do limite acordado com os credores. Com a entrada dos recursos, o múltiplo cai para 3,5 vezes.

A transação contempla um futuro aumento de capital quando houver anúncio de entrada de novos recursos como, por exemplo, a venda de ativos, cuja transação precisa ter um valor equivalente a uma redução de pelo menos R$ 2,5
bilhões na dívida líquida.

Segundo o Valor apurou, uma das possibilidades na mesa da Dasa é a venda de uma fatia minoritária do seu negócio de medicina diagnóstica para um grupo internacional que atua nesse mesmo mercado. A rede de laboratórios de medicina da Dasa é a maior do país, com receita de R$ 7,5 bilhões, em 2023, e cerca de 1 mil unidades distribuídas no país, com marcas como Delboni Auriemo, Alta Diagnóstica, Sergio Franco, SalomãoZoppi, entre outras bandeiras. Há alguns anos, grupos americanos como Quest e LabCorp olharam laboratórios brasileiros, mas as conversas não avançaram.

Ainda, segundo fontes, a companhia também está em conversas para operações de “sales and leaseback” (transação casada de venda e locação do imóvel ao antigo proprietário). Hoje, parte relevante dos imóveis pertence à família Bueno. Essa já tem sido uma estratégia usada e foi uma das formas que a companhia irrigou seu caixa ano passado.

Mesmo que nenhuma transação de entrada de novos recursos seja concluída até 31 de dezembro deste ano, os controladores vão fazer o aumento de capital permitindo que os minoritários acompanhem a operação para evitar diluição, considerando a média do valor da ação nos 60 pregões pós anúncio.

“Com esse novo aporte, afastamos os receios dos ‘covenants’ e reforçamos a crença da família no negócio. Com a entrada de R$ 1,5 bilhão e mais o caixa que temos de R$ 2,1 bilhões, teremos R$ 3,6 bilhões, que é um montante 70% superior às dívidas que temos a vencer neste ano e em 2025”, disse Lício Cintra, presidente da Dasa. Além disso, há a entrada de mais recursos vindos dos minoritários que participarem do aumento de capital.

Nas últimas semanas, a leitura do mercado era de que a companhia quebraria os “covenants” (cláusulas que impõe limita máximo para a alavancagem). Os títulos de dívida da empresa (as debêntures) chegaram a negociar no mercado secundário a mais de CDI +9,5%, uma forte alta em poucas semanas, indicando grande alerta dos investidores. As possibilidades de uma nova oferta subsequente de ações – há pouco mais de um ano, a família Bueno e o BTG colocaram R$ 1,5 bilhão que foi praticamente todo queimado com pagamentos dos juros da dívida – eram remotas tendo em vista as condições de mercado, com alta volatilidade e afastando os emissores. Nesse cenário, seria preciso mesmo uma injeção de capital da própria família Bueno.

Segundo Cintra, os controladores também querem com essa transação afastar os rumores de que a companhia pode fechar o capital, tendo em vista que sua fatia é de cerca de 80%. Há cerca de duas semanas, a gestora HIG, controladora da rede de hospitais Kora, pediu para retirar a companhia do Novo Mercado – gerando ruídos entre os minoritários – a fim de conseguir alternativas como “operações de combinação de negócios com empresas nacionais e estrangeiras que atualmente não estão no Novo Mercado”.

“Com o aporte e o caixa, pagamos dívida de dois anos e ainda sobra 70%”

Lício Cintra

Para evitar que a história se repita com o aporte dos controladores sendo queimado novamente com juros, o presidente da Dasa diz que uma série de medidas de redução de custos e despesas vem sendo tomadas desde o ano passado. Essas ações envolvem, por exemplo, redução de pessoal, redimensionamento em 40% da área de imóveis administrativos ocupados e investimento operacional menor. “Todas essas frentes geraram uma economia de R$ 170 milhões que será capturada ao longo do anol, a partir do segundo trimestre”, disse. Nos três primeiros meses, a representatividade das despesas sobre a receita caiu 0,7 ponto percentual – é um movimento contrário aos dos períodos anteriores.

O investimento operacional (capex), no trimestre, caiu 58% para R$ 53 milhoes. No ano, a estimativa é de R$ 565 milhões, baixa de 22% sobre 2023. Cintra afirmou que não há risco de sucateamento com as reduções de capex que vem ocorrendo em áreas como tecnologia, cuja queda foi de 74%.

A receita bruta subiu 7% para R$ 4,1 bilhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) somou R$ 639 milhões, alta de 4% sobre 2023.

A companhia está focando esforços em negócios que dão retorno como hospitais e laboratórios. Outros ativos como “homecare” e gestão de carteira de planos de saúde devem ser vendidos. A empresa tenta ainda acordos comerciais para que algumas de suas unidades – como hospital dia, em Alphaville, em São Paulo (que reúne o atendimento hospitalar do 9 de Julho e o laboratório Alta Diagnósticos) e uma unidade especializada em oncologia, na Barra, no Rio – sejam consideradas de referência para algumas operadoras que, por sua vez, passam a encaminhar mais pacientes a esses locais, gerando maior receita.

Questionado sobre as negociações envolvendo a medicina diagnóstica, Cintra informou que não comenta rumores de mercado.

Título da Matéria: Família Bueno garante aporte de R$1,5 bi na Dasa

Fonte: Valor Econômico

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