A partir de maio de 2025, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) dará início à fiscalização ativa de riscos psicossociais nas empresas, com base nas novas diretrizes da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1). A medida marca um avanço no gerenciamento de riscos ocupacionais e acende um alerta para empregadores de todos os portes: é hora de cuidar seriamente da saúde mental no ambiente de trabalho.
O que muda com a atualização da NR-1?
Com a nova versão da norma, os auditores do trabalho estão autorizados a investigar, durante fiscalizações ou após denúncias, a existência de fatores de risco psicossociais nas organizações. Isso inclui:
- Metas abusivas e jornadas excessivas
- Assédio moral e conflitos interpessoais
- Falta de suporte da liderança
- Ausência de autonomia no desempenho das funções
Esses elementos serão avaliados com o mesmo rigor que já ocorre com riscos físicos e químicos, independentemente do tamanho da empresa.
Setores mais visados na fiscalização
Embora todos os segmentos estejam sujeitos às novas exigências, três áreas serão prioritárias nas fiscalizações iniciais:
- Teleatendimento
- Bancos
- Serviços de saúde
Além das condições organizacionais, os auditores vão observar indicadores como o volume de afastamentos por doenças relacionadas à saúde mental.
Doenças psicológicas: segunda maior causa de afastamento no Brasil
De acordo com dados da Previdência Social, os transtornos mentais já ocupam a segunda posição entre os principais motivos de afastamento do trabalho no Brasil, ficando atrás apenas de doenças osteomusculares, como dores nas costas e na coluna. Em 2024, foram registrados mais de 400 mil casos de afastamento por motivos psicológicos.
Esse cenário impacta diretamente as contas públicas e o desempenho das empresas: há perda de produtividade, aumento do turnover, sobrecarga nos demais funcionários e prejuízo financeiro. Segundo a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), os transtornos mentais no ambiente corporativo já causam um impacto de quase 5% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Certificação para empresas que cuidam da saúde mental
Em resposta à crescente preocupação com o tema, novas políticas públicas e leis têm sido implementadas. Entre elas, a Lei nº 14.831/2024, que criou o Certificado da Empresa Promotora da Saúde Mental, reconhecendo organizações que implementam boas práticas em saúde emocional.
Segundo especialistas, investir em ações preventivas pode gerar um retorno significativo: maior engajamento, retenção de talentos, redução no número de faltas e valorização da marca empregadora.
Desafios práticos e caminhos possíveis
Apesar dos benefícios, a implementação de políticas eficazes de saúde mental ainda enfrenta desafios. Um dos principais obstáculos é o estigma em torno das doenças psicológicas, que muitas vezes levam o trabalhador a ser desacreditado por colegas e gestores.
Outra dificuldade apontada por juristas e especialistas em saúde do trabalho é a subjetividade dos critérios. Ao contrário dos riscos físicos e químicos — que possuem medições exatas como decibéis ou concentração de substâncias —, os riscos psicossociais exigem uma análise mais qualitativa. Termos como “ambiente tóxico” ainda carecem de definição técnica clara.
Ainda assim, algumas ações práticas já são recomendadas:
- Entrevistas regulares e sigilosas com colaboradores
- Capacitação de lideranças para gestão empática
- Intervalos mais frequentes durante o expediente
- Planos de carreira e reconhecimento profissional
O papel do médico do trabalho também ganha nova dimensão. Ele passa a se aproximar do perfil de um médico de família, acompanhando o cotidiano do trabalhador e identificando fontes recorrentes de estresse e esgotamento.
Empresas estão despertando para a saúde emocional
Segundo levantamento recente do Great Place to Work (GPTW), 59% das empresas já contam com orçamento específico para ações de saúde mental e emocional — o maior índice da série histórica. No entanto, 35% dessas empresas também registraram aumento nos afastamentos por doenças psicológicas, o que mostra que ainda há muito a ser feito.
Desde 2022, a premiação GPTW conta com a categoria especial Destaque em Saúde Emocional, em parceria com a Great People Mental Health. Mais de mil empresas já foram avaliadas sob essa ótica.
Ministério Público do Trabalho também está de olho
O Ministério Público do Trabalho (MPT) já firmou diversos Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) com empresas denunciadas por falhas na gestão de saúde ocupacional. Para o órgão, a melhor saída é a prevenção ativa dos riscos e o fortalecimento de campanhas de conscientização, como o Setembro Amarelo — voltado à prevenção do suicídio.
Como sua empresa deve se preparar?
A recomendação dos especialistas é clara: não espere ser fiscalizado para agir. Criar uma política de saúde mental estruturada e integrá-la à estratégia da empresa é um diferencial competitivo e um gesto de responsabilidade social.
O setor de Recursos Humanos, junto ao time de Saúde e Segurança do Trabalho, precisa assumir protagonismo, acompanhando dados de afastamento, promovendo bem-estar e envolvendo a liderança nas decisões.
Conclusão: prevenir é melhor (e mais estratégico) do que remediar
A atualização da NR-1 marca um novo capítulo na gestão de pessoas. A saúde mental, antes negligenciada, agora entra na pauta obrigatória das organizações. Empresas que reconhecem isso e agem desde já têm mais chances de se destacar, reter talentos e criar ambientes saudáveis e produtivos.