Estudo aponta que 72% não acumulam recursos para manter padrão de vida; principal motivo é a baixa contribuição
Por Liane Thedim – Do Rio – 18/09/2024 | 05h02
Um estudo recente da consultoria Mercer, que analisou 665 planos geridos por fundos de pensão, revela que 72% deles não possuem, atualmente, os recursos necessários para garantir uma aposentadoria digna. Este conceito se refere à manutenção do padrão de vida que o participante desfrutava durante a vida ativa, levando em conta mudanças nos gastos com medicamentos, planos de saúde e lazer.
De acordo com Tiago Calçada, diretor de previdência da Mercer Brasil, “Embora muitos fundos tenham atingido suas metas de rendimento, o nível de contribuição permanece aquém do ideal.”
O relatório destaca que a maioria dos planos (72%) apresenta rendimentos de até 4%. Isso implica que, se as contribuições continuarem nesse ritmo e com esse nível de retorno, o benefício será inferior a 40% do salário final do trabalhador ao se aposentar. Estima-se que isso ocorra aos 60 anos, com uma projeção de juros de 4%, 5% e 6% ao ano a longo prazo.
Entre os planos analisados, o cenário mais preocupante se encontra nos planos do tipo Contribuição Definida (CD), que foram introduzidos no mercado em 1995 e não garantem uma renda fixa na aposentadoria. Apenas 21,1% dos 246 planos dessa categoria têm saldo suficiente para proporcionar uma aposentadoria digna.
Em contrapartida, os planos de Benefício Definido (BD), que são mais antigos e já não aceitam novos participantes, garantem benefícios estabelecidos no ato da contratação. Dos 419 planos desse tipo avaliados, apenas 32,2% estariam em condições de assegurar uma aposentadoria digna.
Calçada ressalta que o Brasil está se tornando um país de idosos, onde a quantidade de pessoas recebendo benefícios será maior do que a de contribuintes. “Devemos enxergar a aposentadoria não como o fim da vida ativa, mas como uma fase a ser aproveitada com qualidade, e a solução é a previdência complementar”, argumenta.
De acordo com Calçada, cerca de 75% dos planos estão com contribuições inferiores ao necessário. A literatura internacional recomenda que a contribuição totalize 15% do salário, sendo 7,5% responsabilidade do empregado e 7,5% da empresa. No entanto, apenas 25% das empresas brasileiras seguem essa orientação.
Ele também sugere que o perfil de cada participante seja considerado para permitir a alocação em investimentos com maior risco e retorno.
Calçada defende que as empresas devem investir em educação financeira e se preocupar com o bem-estar financeiro de seus colaboradores. A pesquisa da Mercer indica que apenas 23% das empresas no Brasil oferecem iniciativas focadas na saúde financeira de seus funcionários, enquanto 13% têm planos de implementar ações nesse sentido.
Além disso, 79% dos funcionários acreditam que a empresa deveria auxiliar no planejamento da aposentadoria. “As empresas precisam ser protagonistas nesse processo, assumindo a responsabilidade social de contribuir para o planejamento financeiro de seus funcionários.”
Uma abordagem sugerida por Calçada é incentivar empregados de perfis conservadores a aumentar suas contribuições, e os mais arrojados a considerar investimentos mais arriscados. A pesquisa da Mercer também revelou que 51% das 800 empresas consultadas oferecem benefícios de previdência, uma marca que supera 50% pela primeira vez em mais de duas décadas.
O diretor da consultoria prevê um aumento no número de grandes empresas oferecendo esse tipo de benefício, impulsionado pelos incentivos fiscais voltados para companhias com lucro real.
Entretanto, as pequenas e médias empresas, que pagam impostos sobre lucro presumido, não têm a mesma oportunidade de deduzir suas contribuições. Apenas 8% a 9% da população brasileira conta com plano de previdência privada, e esse número precisa crescer por meio de políticas públicas de incentivo.
“Se nada for feito agora, não haverá tempo para reagir no futuro”, alerta Calçada, sugerindo que empresas de lucro presumido também sejam incentivadas a oferecer planos de previdência para seus colaboradores.
Jarbas de Biagi, presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), aponta que, embora os fundos de pensão não personalizem os planos, eles oferecem ganhos de escala aos participantes, possibilitando melhores taxas devido ao poder de negociação das instituições.
Ele concorda que é essencial aumentar o investimento em educação financeira e previdenciária, incluindo esse tema nas escolas, uma sugestão recente da Abrapp ao Ministério da Previdência.
A Abrapp já conta com um programa de universidade corporativa, oferecendo cursos sobre governança, prevenção à lavagem de dinheiro e planejamento financeiro para aposentadoria.
Título da Matéria: Maioria dos planos de pensão fechados não garante ‘aposentadoria digna’
Fonte: Valor Econômico