Com a crise, procedimentos médicos passaram a ser mais questionados, com postergação ou cancelamento de pagamentos
Por Beth Koike – De São Paulo – 28/10/2024 | 05h01
No ano passado, os 140 maiores hospitais privados do Brasil geraram uma receita total de R$ 53 bilhões. No entanto, uma parte significativa dessa quantia, R$ 4,5 bilhões (equivalente a 8,58%), foi contestada pelas operadoras de planos de saúde. Essa prática, chamada de glosa, tem se tornado cada vez mais comum, especialmente após a crise que afetou o setor em 2021. Em 2019, as glosas representavam 5,5% da receita, mas esse percentual subiu para 8,87% no segundo trimestre deste ano.
Além das glosas, os hospitais também enfrentam situações em que enviam cobranças incorretas, como códigos errados e valores sem a devida cobertura dos planos de saúde, levando a conflitos com as operadoras. Fernando Torely, presidente do Hcor, observa que a margem média do Ebitda dos hospitais associados à Anahp é de aproximadamente 12%. Ele alerta que a taxa inicial de glosas está se aproximando dessa margem, o que pode indicar um problema sério no setor.
Embora as negociações frequentemente resultem em uma redução desse percentual pela metade, o recebimento efetivo dos pagamentos pode levar anos. Denise Santos, presidente da BP – Beneficência Portuguesa, relata que ainda está lidando com cobranças glosadas desde 2022.
Com a melhora na economia, as operadoras têm mostrado mais disposição para reabrir negociações, algo que antes parecia distante. Entretanto, as glosas continuam a ser um dos principais obstáculos enfrentados pelos hospitais. Paulo Chapchap, diretor médico do Hospital Santa Joana, enfatiza que “as glosas são o maior desafio atualmente”.
Dados da Bionexo, que gerencia contas médicas para instituições hospitalares, mostram que entre janeiro e outubro deste ano, R$ 801,2 milhões foram contestados pelas operadoras, um aumento em relação aos R$ 348,3 milhões de 2023. A postergação desses pagamentos prejudica o fluxo de caixa dos hospitais, que muitas vezes precisam recorrer a empréstimos bancários a juros altos para manter suas operações. Antônio Britto, diretor executivo da Anahp, destaca essa questão como crítica.
Mohamed Parrini, CEO do Hospital Moinhos de Vento, critica as operadoras, que, segundo ele, melhoraram seus resultados financeiros à custa dos prestadores de serviço, aumentando os prazos de pagamento e questionando diversos procedimentos. Para Torely, do Hcor, é crucial que o setor defina um teto para as contas médicas questionadas. Essa prática é comum entre operadoras quando buscam reduzir custos, mas também pode levar hospitais a realizarem procedimentos desnecessários durante períodos de baixa receita.
Rafael Barbosa, CEO da Bionexo, aponta que ainda há ineficiências nos hospitais, com cerca de 10% das contestações originadas por erros na codificação das cobranças. Ele acredita que a automação nos processos de cobrança pode ajudar a diminuir esses erros, assegurando que os pedidos de pagamento sejam feitos corretamente. A Bionexo, ao entrar no mercado de gestão de contas médicas, conseguiu reverter R$ 411 milhões que estavam sendo questionados.
A Abramge, associação das operadoras, ainda não se pronunciou sobre a situação.
Título da Matéria: Operadoras retêm R$ 4,5 bilhões em pagamento para hospitais
Fonte: Valor Econômico