Orçamento

Após um período de crescimento contínuo, o mercado de planos de saúde no Brasil pode enfrentar um momento de desaceleração em 2025. A combinação de fatores econômicos como alta da inflação, juros elevados e aumento do desemprego, somada a reajustes nos valores das mensalidades, pode impactar diretamente o número de beneficiários.

Possível Queda no Número de Beneficiários

Nos últimos cinco anos, houve um acréscimo de 4,4 milhões de usuários nos planos de saúde, impulsionado principalmente pela pandemia da Covid-19. No entanto, projeções do setor indicam que este ciclo de expansão pode estar chegando ao fim. Especialistas apontam que, em um cenário mais pessimista, pode haver retração no número de clientes em 2025.

Segundo estimativas de instituições financeiras, como o Santander, o setor pode registrar a perda de aproximadamente 358 mil usuários ao longo do ano. Esse número se aproxima do crescimento observado em 2020, quando o setor ganhou 393 mil novos beneficiários devido à preocupação da população com a pandemia. Já os analistas do Citi preveem um leve recuo ou, no máximo, estabilidade no total de contratos.

Por outro lado, algumas projeções ainda indicam um crescimento, mas em ritmo mais lento. O Itaú BBA estima um acréscimo entre 250 mil e 500 mil novos contratos, enquanto a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) prevê a inclusão de 600 mil novos beneficiários. Para efeito de comparação, em 2023 e 2024 (até novembro), o setor cresceu 733 mil e 705 mil usuários, respectivamente. Se confirmadas, essas estimativas indicarão uma desaceleração significativa na evolução do setor.

Impacto da Inflação e do Desemprego

O cenário macroeconômico tem um papel central nesse movimento. O mercado financeiro estima que a taxa de desemprego suba de 6,3% em 2024 para 6,8% em 2025. Além disso, a inflação médica continua crescendo em ritmo acelerado, com projeções indicando um aumento de preços duas vezes acima do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), dificultando o acesso da população aos planos de saúde.

Especialistas alertam que esse aumento de custos pode levar muitas empresas a reverem seus contratos de assistência médica para funcionários, o que impactaria diretamente os planos coletivos empresariais, que representam a maior fatia do mercado. De acordo com a Abramge, caso o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 2% e sejam geradas entre 1,2 milhão e 1,6 milhão de novas vagas formais, pode haver um equilíbrio no setor. Entretanto, a entidade reconhece que mudanças regulatórias em discussão podem afetar esses números.

Mudanças Reguladoras e Seus Efeitos

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) está debatendo novas regras que podem impactar os custos dos planos de saúde. Entre as principais propostas está a limitação da coparticipação em 30% por procedimento médico, com isenções para tratamentos crônicos, oncologia, hemodiálise e alguns exames preventivos. Além disso, o valor total gasto pelo beneficiário com coparticipação não poderá exceder 30% da mensalidade ou ultrapassar 3,6 mensalidades anuais.

Nos últimos anos, muitas operadoras têm adotado a coparticipação como forma de equilibrar custos e minimizar reajustes nas mensalidades. Com a nova regulamentação, essa estratégia pode ser limitada, pressionando ainda mais os preços dos planos de saúde.

Histórico Recente e Perspectivas para o Futuro

Entre 2015 e 2019, o setor de planos de saúde sofreu uma retração, retomando o crescimento apenas em 2020, motivado pela pandemia. Nos anos seguintes, os preços dos planos foram ajustados de forma moderada, favorecendo a entrada de novos clientes, especialmente em produtos de menor custo. No entanto, a partir de 2022, o aumento da inflação médica e a retomada de consultas e procedimentos represados durante a pandemia levaram a um crescimento expressivo das despesas das operadoras.

Outro fator relevante foi a ampliação da cobertura para pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), estabelecida pela ANS. Com essa mudança, planos passaram a cobrir um número ilimitado de terapias como fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia e terapia ocupacional. Atualmente, os gastos com essas terapias já superam os custos com tratamentos oncológicos.

Mesmo diante dos desafios, o setor segue buscando alternativas para manter a sustentabilidade e o acesso aos planos de saúde. Projeções indicam que, até 2034, o Brasil poderá atingir uma cobertura de 25,5% da população com assistência médica privada, considerando um crescimento médio anual de 1%.

Conclusão

O mercado de planos de saúde pode enfrentar um período de estagnação ou até mesmo retração em 2025, pressionado por fatores econômicos, inflação médica e novas regulamentações. Para as empresas do setor, o desafio será equilibrar custos e reajustes sem comprometer o acesso da população aos serviços de saúde suplementar. Já para os consumidores, o planejamento financeiro se torna essencial para garantir a manutenção do benefício em meio a um cenário de incertezas.

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